Quem nunca ouviu “piadas” sobre mulheres dirigindo?
A ideia de que carro é coisa de homem é muito forte e constante no nosso dia-a-dia. A associação entre o homem (e a masculinidade) e o carro está ligada a uma desigualdade de gênero nas possibilidades de transporte e mobilidade.
Ainda vivemos uma diferença de salários e de trabalho entre homens e mulheres. Isso faz com que, principalmente nas famílias em que o homem tem o papel de “provedor” do dinheiro, seja ele quem pode comprar e dirigir o carro.
Esse meio de transporte – individual e privado – é o mesmo que vemos sendo priorizado nas políticas do Estado. O transporte “público”, por outro lado, no qual as mulheres são maioria, sofre cortes, tem o uso do espaço restrito, uma tarifa cada vez mais cara, com as condições de lotação e desconforto que já conhecemos.
Frente a essas desigualdades, a sociedade não pode tratar o deslocamento e o acesso à cidade como um problema individual. Sabemos muito bem quem são os indivíduos que conseguem transitar nessas condições e sabemos que as mulheres, principalmente negras e periféricas, são as mais prejudicadas pela cidade do carro.
Este modelo de cidade é vinculado a toda uma economia baseada no automóvel e em trabalhos atribuídos ao masculino, fazendo o dinheiro público ser usado para garantir mobilidade para os homens, sustentando sua masculinidade através do dinheiro, da posse do carro ou da moto.
As próprias linhas de ônibus e metrô seguem essa lógica: ligam centro e periferia, a casa e o trabalho, mas não atendem as demandas de outras esferas da vida – ligadas às famílias e às crianças, à educação e à saúde – impostas como responsabilidade das mulheres.
Queremos um transporte que garanta maior igualdade de acesso a todos os espaços da cidade, que vá contra as estruturas que mantem opressões de gênero na cidade!
[continua]
(1) Atualmente as mulheres são 80% das usuárias de ônibus.