Do Navio Negreiro às Catracas
O transporte, que deveria servir para aproximar as pessoas, permitir encontros e a apropriação da cidade em que se vive, tem funcionado como um perverso sistema de reprodução e aprofundamento de opressões. Não é à toa que dizemos que todo vagão ou ônibus tem muito de navio negreiro. Na verdade, bem antes dos ônibus, metrôs e trens, o primeiro transporte de massas que tivemos no Brasil foi feito pelos navios que traziam pessoas africanas escravizadas para trabalhar na colônia. As condições violentas em que eram trazidas mostram que eram vistas como simples mercadorias: quanto mais gente pudesse ser espremida no navio, maiores os rendimentos para os traficantes de escravos. Hoje, a maior parte das pessoas que dependem do transporte coletivo pra ir e voltar do trabalho são negras ou não-brancas, mulheres e periféricas. E as condições em que essas viagens acontecem são extremamente precárias. O custo da tarifa, as grandes distâncias, o longo tempo perdido, a lotação, as baldeações, a falta de manutenção dos veículos e trens, a falta de linhas de ônibus… tudo isso são consequências de um transporte que não trata os usuários como pessoas, mas como números. Isso revela que são impostas condições diferentes de mobilidade e Continue lendo Do Navio Negreiro às Catracas