A mudança vem de baixo

Artigo do MPL-SP publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo (29/09/14) Os protestos que tomaram as ruas de todo o País em junho de 2013 não se voltaram contra este ou aquele governo, muito menos clamaram por um novo representante. Ao forçar a revogação do aumento da tarifa, a população recusou uma decisão tomada em seu nome e agiu diretamente sobre sua própria vida. Interrompendo o trânsito, abriu um caminho explosivo: interveio diretamente na política, sem submeter-se a intermédios. Não surpreende que, hoje, nenhuma das principais candidaturas apresente resposta ao problema do transporte coletivo. Não surpreende que não apareçam sequer propostas no sentido de uma redução das tarifas ou da tarifa zero. É algo que não se pode esperar daqueles que estão inevitavelmente comprometidos com a conversão de toda a vida em mercadoria. E que precisam, para isso, que cada um se torne um espectador do jogo político, delegando a eles sua voz e seu poder de decisão. Como mostraram as manifestações do ano passado, as transformações não vêm de cima, mas de baixo, dos que sofrem dia após dia em ônibus e vagões abarrotados, para ir e vir em uma cidade voltada para o lucro. Desde junho Continue lendo A mudança vem de baixo

“O movimento pelo transporte gratuito no Brasil”, por Michel Löwy

O movimento pelo transporte gratuito no Brasil Michael Löwy traduzido por Caipora, militante do MPL-Rio. A luta do Movimento Passe Livre (MPL) – movimento pelo transporte público gratuito – contra o aumento dos preços das passagens foi a que desencadeou a ampla e impressionante mobilização popular no Brasil no último mês de junho, que levou às ruas centenas de milhares, quando não milhões, de pessoas nas principais cidades do país. O MPL foi uma pequena faísca libertária que provocou o incêndio. Quais lições podem ser tiradas desta experiência e qual é o alcance social, ecológico e político da luta pelo transporte gratuito? O MPL foi fundado em janeiro de 2005, por ocasião do Fórum Social Mundial de Porto Alegre, como uma rede federativa de coletivos locais. Estes coletivos já existiam há vários anos e levaram a cabo importantes lutas como a de Salvador (BA) em 2003, contra o aumento das passagens de ônibus. A carta de princípios do MPL (revisada e completa em 2007 e 2013) o define como um “movimento horizontal, autônomo, independente e apartidário, mas não antipartidário”. A horizontalidade é, sem dúvida, a expressão de um projeto libertário que desconfia das estruturas e instituições “verticais” e “centralizadas”. A Continue lendo “O movimento pelo transporte gratuito no Brasil”, por Michel Löwy

“Formas de remuneração das empresas de transporte em São Paulo: a quais interesses atendem?”

Re-publicamos aqui artigo publicado originalmente no site independente http://tarifazero.org, por Marina Capusso. Recentemente, a presidenta Dilma Rousseff anunciou que convocaria uma reunião com “os prefeitos, os governadores, os movimentos sociais, a Frente Nacional de Prefeitos, o Fórum Nacional de Secretários de Transporte, setores da academia, prestadores de serviço de transporte, trabalhadores do setor(…)”[1]. Esta reunião teria como pauta a “planilha de cálculo das tarifas”.  Sem dúvida, a discussão sobre a planilha de custos dos transportes é importante, porém, muito mais para termos clareza dos gastos públicos e dos lucros das empresas privadas que exploram este setor, dando concretude ao debate de quanto custa o sistema e de quem paga por ele, do que para a definição da tarifa em si. Como sabemos, a definição do valor da tarifa do transporte é uma decisão política, é uma opção entre o transporte como um direito social – que deve servir a totalidade da população, garantindo a esta o direito à cidade – ou o transporte como serviço privado – que exclui aqueles que não podem pagar pelo seu uso. Mas engana-se quem achar que a única diferença entre estas concepções seja o valor da tarifa ou sua própria existência. A concepção do transporte Continue lendo “Formas de remuneração das empresas de transporte em São Paulo: a quais interesses atendem?”

“Tarifa do transporte: o que está por trás dela?” Por Lúcio Gregori e Mauro Zilbovicious

Re-publicamos aqui artigo de Mauro Zilbovicius e Lúcio Gregori sobre a tarifa nos transportes coletivos. Mauro Zilbovicius é ex-secretário interino de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo, professor doutor do Departamento de Engenharia de Produção da Poli-USP e membro do Conselho Curador da Fundação Vanzolini. Lúcio Gregori é engenheiro e ex-secretário de Transportes da cidade de São Paulo (1990-1992). Ambos participaram da elaboração do projeto de Tarifa Zero e municipalização dos ônibus em São Paulo na década de 1990. Leia o artigo original aqui: “Há um ‘personagem’ que monopoliza a narrativa dos protestos e debates em torno da tarifa do transporte coletivo urbano: a “caixa preta” na qual se ocultam as distorções e gorduras de planilhas controladas pelas empresas do setor. A planilha misteriosa atravessa os tempos: é a mesma utilizada pelo GEIPOT, ainda na ditadura. A trajetória adensa as suspeitas e expectativas: uma vez aberta a caixa preta, resolve-se o desafio de baratear e qualificar o transporte coletivo? Nada mais equivocado. Os dois principais itens da operação são a mão-de-obra (entre 45% e 50% do custo total) e os combustíveis (em torno de 20% do total). Manutenção, reposição, impostos, taxas, depreciação do investimento em novos veículos e garagens complementam Continue lendo “Tarifa do transporte: o que está por trás dela?” Por Lúcio Gregori e Mauro Zilbovicious