Passe Livre SP Mulheres: 5) Horizontes na luta contra as catracas

Somos a maioria nos transportes públicos, nos deslocando todos os dias para o trabalho, escola, faculdade e muitas outras atividades. Vivemos e construimos a cidade enfrentando as opressões de gênero, classe e raça. A conquista de creches e escolas, postos de saúde, linhas de ônibus e até mesmo bairros inteiros foram fruto de lutas protagonizadas por mulheres. No começo deste ano vimos também a luta pelo TEG (Transporte Escolar Gratuito), contra os cortes da gestão Dória-Bruno Covas, como mais um exemplo da organização de mulheres, mães periféricas em grande parte negras, pelo direito ao transporte e à educação. Mas apesar do enfrentamento, persistência, resistência e união dessas pessoas, essas lutas raramente são lembradas como “acontecimentos históricos”. Mesmo a esquerda muitas vezes não vê esses movimentos como movimentos “políticos”. Isso porque é dado destaque e maior visibilidade aos partidos e sindicatos, em sua maioria comandados por homens e com pautas ligadas a esfera do trabalho.  Já nas organizações com pautas ligadas às condições de vida, as mulheres são as principais participantes, por serem  historicamente responsabilizadas por garantir a sobreviência das famílias. Mas não foi fácil ocupar esses espaços públicos! Para ter nossa voz reconhecida, tivemos que bater de frente com nossos Continue lendo Passe Livre SP Mulheres: 5) Horizontes na luta contra as catracas

Passe Livre SP Mulheres: 4) violência de gênero no transporte

Historicamente, a circulação das mulheres na cidade é limitada e impedida, ficando aprisionadas e sob a guarda dos homens – pais, irmãos, maridos – seja por dependência financeira ou por outras violações. O confinamento à casa e isolamento das mulheres – a distância da família, amigas e amigos e de outros espaços onde se pode, por exemplo, buscar ajuda para enfrentar violências domésticas – são agravados pela lógica de transporte que temos. O acesso ao transporte depende de dinheiro e os homens são aqueles que detém o poder financeiro em muitas famílias.  Mesmo quando as mulheres são as maiores responsáveis pelas famílias, inclusive financeiramente, a estutura patriarcal (em que o poder é do homem) define os lugares onde as mulheres devem circular (mercado, escola, casa, trabalho), com quem circulam e os horários em que isso é permitido. Esse controle externo sobre as vidas e corpos das mullheres justifica e facilita agressões e até mesmo mortes (3). Simplesmente pelo fato se sermos mulheres, a cultura machista, cultura do esturpro, trata nossos corpos como objetos à disposição dos homens. Essa situação impacta nosso cotidiano também no transporte “público”. Nos vagões e nos ônibus, muitos homens que se aproveitam do aperto e da Continue lendo Passe Livre SP Mulheres: 4) violência de gênero no transporte

Passe Livre SP Mulheres: 3) A cidade das catracas, uma cidade machista, elitista e racista

A cidade dos carros e das catracas expressa uma sociedade elitista, machista e racista. Essas diferentes desigualdades, fazem com que a opressão de gênero afete de formas diferentes as mulheres, recaindo ainda mais brutalmente sobre as mulheres pobres e negras. Não à toa, a maior parte dessas mulheres vivem nas periferias, nas quebradas e nas favelas, onde prevalece a ausência de direitos mantida com uma política genocida do Estado. No trabalho, não apenas as mulheres recebem salários menores do que os homens que exercem a mesma função, como ocupam funções mais desvalorizadas no geral – por serem tidas como extensão da maternidade, como a limpeza, enfermagem e a educação – além de comporem a maior parte do trabalho informal e do desemprego. A situação do trabalho doméstico remunerado é bastante expressiva dessa realidade: 92% são mulheres e a maior parte são negras (2).  Ocupando trabalho precários, de forte herança escravocrata, essas mulheres tem a sua circulação ainda mais reduzida. Por ganharem pouco, não conseguem arcar com alto custo da tarifa e raramente recebem ValeTransporte. Por serem periféricas, perdem mais tempo no transporte. Por serem negras sofrem discriminação racial. Mas as mulheres, negras, periféricas, não apenas sofrem toda essa opressão, como Continue lendo Passe Livre SP Mulheres: 3) A cidade das catracas, uma cidade machista, elitista e racista

Passe Livre SP Mulheres: 2) A cidade do carro, uma cidade machista

Quem nunca ouviu “piadas” sobre mulheres dirigindo?  A ideia de que carro é coisa de homem é muito forte e constante no nosso dia-a-dia. A associação entre o homem (e a masculinidade) e o carro está ligada a uma desigualdade de gênero nas possibilidades de transporte e mobilidade. Ainda vivemos uma diferença de salários e de trabalho entre homens e mulheres. Isso faz com que, principalmente nas famílias em que o homem tem o papel de “provedor” do dinheiro, seja ele quem pode comprar e dirigir o carro. Esse meio de transporte – individual e privado – é o mesmo que vemos sendo priorizado nas políticas do Estado. O transporte “público”, por outro lado, no qual as mulheres são maioria, sofre cortes, tem o uso do espaço restrito, uma tarifa cada vez mais cara, com as condições de lotação e desconforto que já conhecemos (1). Frente a essas desigualdades, a sociedade não pode tratar o deslocamento e o acesso à cidade como um problema individual. Sabemos muito bem quem são os indivíduos que conseguem transitar nessas condições e sabemos que as mulheres, principalmente negras e periféricas, são as mais prejudicadas pela cidade do carro. Este modelo de cidade é vinculado Continue lendo Passe Livre SP Mulheres: 2) A cidade do carro, uma cidade machista

Passe Livre SP Mulheres: 1) As catracas invisíveis que nos dividem

Entendemos que para manter o lucro e o poder de quem é de cima é essencial que catracas – visíveis e invisíveis – dividam quem é de baixo. Entendemos também que para superar essas divisões, estruturais e profundas, precisamos antes de mais nada reconhecer sua existência. O machismo, por exemplo, é uma dessas catracas invisíveis que impedem a nossa união. Basta vermos que, em todas as esferas da vida, as mulheres são constrangidas a cumprir trabalhos e funções que não são remuneradas e, ao mesmo tempo, são desvalorizadas como, por exemplo, o trabalho doméstico e o materno. Para isso, são cotidianamente silenciadas e violentadas de diferentes maneiras. Infelizmente, isso não é diferente no transporte “público” e também não é diferente nos espaços de luta, como os movimentos sociais. Para enfrentar essa realidade, acreditamos que a luta contra o machismo caminha conjuntamente, e não de forma secundária, com a luta por um transporte verdadeiramente público. Também acreditamos que a horizontalidade é a melhor maneira de nos organizarmos nessa luta anticapitalista. Para isso, os espaços auto-organizados das mulheres são momentos importantes para a construção da horizontalidade e solidariedade dentro e fora dos movimentos, já que vivemos em uma sociedade extremamente desigual e Continue lendo Passe Livre SP Mulheres: 1) As catracas invisíveis que nos dividem